SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO
Na abertura de trabalhos do WIT –
Women in Tax Brasil, Andréa Piscitelli, conferencista e professora de renomadas
universidades, em sua fala, mencionou o quanto as mulheres são únicas nos
ambientes profissionais, principalmente, quando ascendem em suas carreiras.
Tão longe de denotar os aspectos
positivos, como competência, destaque e exclusividade, a palavra “única”
mostrou-se fria e dura, como um punhal, gerando uma sensação de profunda
solidão. Ao ressoar em meus ouvidos, seguiu como eco contínuo por todo meu ser.
Lembranças emergiram das inúmeras ocasiões em que fui única.
Olhei ao redor. Expressões
reflexivas estampavam as faces daquelas mulheres lindas, fortes e competentes.
Elas sentiram o mesmo impacto. Restou evidente que apesar de termos maior representatividade
no mercado de trabalho, na política e nos meios de formação, sejam estes
técnicos ou acadêmicos, em muitas ocasiões ainda somos únicas.
A verdade é que ser única nos torna
sozinhas e como já dizia o poeta: É impossível ser feliz sozinho.
Esta solidão cansa. As mulheres
estão cada vez mais sozinhas e em muitas ocasiões, não encontram nos homens de seu dia-a-dia o
apoio que necessitam em todas as suas jornadas. Por outro lado, uma rivalidade
entre as mulheres é alimentada e incentivada como forma de enfraquecer a sororidade
tão necessária para nos mantermos fortes.
Outro ponto observado é que ser “única”
significa que as mulheres ainda tem um longo caminho pela frente para ocuparem
posições, para de fato assegurar, convalidar e firmar a presença feminina em
todos os âmbitos da sociedade.
Não podemos deixar de ressaltar
que muito foi conquistado como direito ao voto, de receber herança, de se
divorciar, ingressar em universidade ou em cursos técnicos, no mercado do
trabalho, de ter maior independência financeira, mas, ainda somos minoria e com
direitos inferiores aos dos homens.
No entanto, parece ter havido um
“despertar”, gerando nas mulheres uma necessidade cada vez maior de se associar
a outra. Um grande volume e dos mais variados tipos de associações formadas por
e para mulheres, tem sido crescente e uma tendência mundial.
Mas o que isso tem a ver com o
título deste artigo? Respondo. Tudo.
Shakeaspeare nos confronta com a
pergunta” Ser ou não ser?”, ao mesmo tempo que nos apresenta um desafio com sua
resposta “Eis a questão”.
O ser homem ou ser mulher é o que
deveria definir qualquer coisa em nossa sociedade? Não bastaria para nós
sermos? Simplesmente sermos? De fato, há a necessidade de segregarmos a
sociedade em homens e mulheres? Ou pior, de sermos obrigados a nos organizarmos
e associarmos por sermos de sexos diferentes ao invés de pensarmos em nos
unirmos para a consecução de objetivos comuns? Por que deveriam as mulheres
terem que se organizar entre si para poderem exercer seus direitos? Faz sentido
para o bem comum segregarmos uma mesma categoria entre homens e mulheres? O que
eu sendo mulher posso querer para minhas áreas de formação, quais sejam,
contabilista, advogada, escritora que um homem também não queira?
Até quando o Ser homem, mulher ou
não ser será a questão?
Excelente reflexão, que leva a uma outra também importante: Qual a linha divisória entre a proteção mínima necessária para as pessoas que são socialmente excluídas por algum motivo e a criação de "guildas" protecionistas e excludentes?
ResponderExcluirÉ um tema que tem sido debatido desde a criação de cotas raciais e de políticas públicas inclusivas e parece que vai ser um tema necessário (e inconclusivo, além de desafiante) por muito tempo, até porque tem que lidar com uma cultura com diversas raízes que tende a mostrar o "sucesso" individual como algo a ser desejado e que tem, em muitos discursos, "apoio divíno". Quem nunca ouviu que "Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos"? Mas aparentemente essa "capacitação" tem que ser alcançada individualmente, com o esforço puramente pessoal e não coletivo e cujo sucesso, quando ocorre, é a recompensa que não deve ser dividida. "Quem quiser que lute". Por outro lado, o fracasso também é individual, culpa do escolhido que não soube se capacitar de alguma forma indefinida apesar de todas as dificuldades. A cultura do "empreendedorismo" é nesse sentido, valoriza-se os que deram um jeito de vencer, custe o que custar, e quem não consegue é porque "é preguiçoso". Será? Não está na hora de pensarmos em um bem estar coletivo mínimo e quem se destacar que tenha os privilégios desse destaque, acompanhado da consciência de que é seu dever colaborar para que o bem estar coletivo mínimo seja assegurado?
A resposta seria justamente a frase do poeta "É impossível ser feliz sozinho", então colaborar para o bem estar mínimo coletivo, garante que os que tenham se destacado por um apoio da coletividade, também alcancem a felicidade e não se sintam sozinhos no topo, como a copa da árvore não se sente tão longe assim das raízes que lhe lembram da terra de onde sua semente germinou.
Parabéns pelo artigo. Meus aplausos.